A experiência de ser uma mulher viajando sozinha para outro país

Beatriz Oliveira
She Leads Brasil

--

Em fevereiro, tive a oportunidade de viajar sozinha para outro país pela primeira vez. Decidi fazer isso depois de muito tempo criando coragem, e quando digo coragem, é no sentido literal mesmo, pois até então sempre havia viajado para o exterior com alguma empresa pagando minhas despesas. Nunca havia planejado financeiramente uma viagem para fora, e também nunca estive em um país sem outros brasileiros por perto. Essa ideia era aterrorizante para mim, pois na minha cabeça era inimaginável viajar sozinha para descansar em um lugar onde não conhecia ninguém.

Viajar para mim ainda é sinônimo de luxo, mesmo tendo condições para me planejar para isso hoje. Isso se deve ao fato de que não cresci em uma família que tinha o costume de viajar para conhecer o mundo. As poucas viagens que fiz durante a infância e adolescência foram para visitar a família do meu pai no Nordeste. Não tínhamos condições financeiras para fazer muito além disso, então cresci sem muitos parâmetros do que é viajar simplesmente para me divertir e conhecer lugares novos.

Nos últimos anos, fiz algumas viagens sozinha pelo Brasil e conheci alguns lugares, incluindo o Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Bahia. No entanto, nunca havia ido tão longe sem companhia. Dessa vez, decidi ir a Miami, um lugar que já conhecia por ter ido até lá no ano passado para um evento a convite do Google. Eu adorei conhecer Miami no ano passado, mas a viagem foi corrida. Então, retornar com mais tempo para aproveitar parecia uma ótima opção para mim. Além disso, ter opções de voos diretos com preços acessíveis e um clima quente me fizeram optar por ir para lá.

A complexidade de ser uma mulheres que viaja solo

Quando contei para pessoas próximas que estava indo para Miami, surgiram vários questionamentos sobre por que ir sozinha. Isso me fez questionar também: por que é tão estranho para as pessoas que eu viaje sozinha para outro país?

Até hoje, não tenho uma resposta definitiva para isso, mas é evidente que viajar solo, sendo mulher, torna essa experiência um pouco mais complexa. Mesmo sendo um momento de descanso e diversão, não pude me dar ao luxo de baixar a guarda, por medo de situações que me deixassem vulnerável.

Inclusive, pouco antes da minha viagem, vi várias reportagens na mídia sobre a morte de Julieta Hernández, uma artista venezuelana que foi morta no Amazonas. No Brasil de Fato, você pode encontrar mais detalhes sobre o caso, mas, resumidamente, ela viajava sozinha de bicicleta e foi vítima de violência sexual, roubo e agressões antes de ser assassinada.

Esse é apenas um dos vários casos que demonstram que não estamos seguras em lugar nenhum. O medo de que algo aconteça está sempre presente, e constantemente precisamos considerar questões como qual roupa vestir, avisar conhecidos sobre nossa localização, não ir muito longe e permanecer alertas em todos os lugares que frequentamos. A lista de precauções é extensa, e eu definitivamente ainda sinto medo de viajar sozinha, mesmo já tendo conseguido fazer isso, e aposto que esse é um receio da maioria das mulheres.

O lado bom de viajar solo

Por outro lado, esta viagem me mostrou que, muitas vezes, só eu posso realizar o que desejo. Também percebi o quanto é importante encontrar conforto na minha própria companhia e me encorajar, mesmo quando estou com medo. Ao mesmo tempo, também pensei em como posso servir de inspiração para outras amigas que compartilham dos mesmos receios de viajar sozinhas para algum lugar.

Estando sozinha, percebi que meu inglês e espanhol não são os melhores, mas são suficientes para não passar fome ou conseguir comprar o que quero em uma loja. Estabelecer um diálogo fora do português ainda é difícil para mim, mas estando sozinha, não tive escolha, o que me fez perceber que sim, eu posso fazer isso!

Aproveitei esses dias para fazer coisas que eu gosto, tudo no meu ritmo. Fiz compras (bem patricinha), corri na rua, fiz aula de bike, fui à praia, comi muitas coisas gostosas (outras nem tanto) e, o mais importante, descansei bastante. Estar em um lugar onde ninguém me conhecia me permitiu ser autêntica, pois eu não tinha nada a perder. A sensação de ser capaz e suficiente para seguir minha própria jornada, mesmo com medo, era real.

Euzinha correndo, pedalando, comendo e apreciando muito meu descanso em Miami *-*

Viajar sozinha sendo mulher é um misto de sentimentos. A sensação de liberdade não é completa, mas ao mesmo tempo, nessa experiência, me tornei grata por cada passo dado, pois cada vez que seguimos nossa jornada em direção à nossa liberdade de existir e ser livre, ficamos mais próximas de nossa essência.

Eu desejo que toda mulher possa um dia ter uma experiência parecida. Não precisa ser uma viagem para outro país. Se você puder planejar uma viagem simples, faça. Pode ser para uma cidade próxima, mas recomendo muito que você sinta o prazer de aproveitar sua própria companhia e se sinta capaz de ir para onde quiser. Também desejo que o mundo se torne um lugar que nos permita ir onde quisermos.

--

--