Diversidade e Inclusão em STEM: Como podemos evoluir nesse cenário?

Beatriz Oliveira
She Leads Brasil

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Em 11 de fevereiro, celebra-se o Dia Internacional das Meninas e Mulheres em STEM — Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, uma data estabelecida pela UNESCO e pela ONU Mulheres para reconhecer a relevância das contribuições femininas nessas áreas. Além disso, a data também existe para incentivar o interesse das meninas e mulheres e motivá-las a seguir carreiras nessas áreas.

A área de tecnologia está em constante crescimento, o que gera diversas oportunidades em todo o mundo. Segundo a Brasscom, no Brasil, a demanda por profissionais de tecnologia será de 420 mil até 2024, porém, o país forma apenas 46 mil por ano.

Apesar das inúmeras vagas existentes, a representação das mulheres nessas áreas ainda é muito baixa. Segundo a pesquisa “Women in Technology” da Michael Page, apenas 20% dos cargos nas áreas de tecnologia na América Latina são ocupados por mulheres.

Esse déficit é resultado de diversos fatores, que incluem os estereótipos que associam essas áreas técnicas a habilidades masculinas, além da falta de representação e apoio às meninas e mulheres desde a infância. Segundo uma publicação da UNESCO, vários elementos influenciam a participação, avanço e desempenho de meninas e mulheres na educação em STEM. Dentre eles, destacam-se as crenças e expectativas dos pais, o status socioeconômico, as normas sociais e culturais relacionadas à igualdade de gênero, os estereótipos de gênero presentes na mídia, entre outros.

Dando alguns exemplos práticos, é comum observarmos que, desde cedo, as meninas são direcionadas para brincar com bonecas e casinhas, enquanto os meninos são incentivados a brincar com blocos de montar, jogos de tabuleiro, videogames e computadores. Essas atividades estimulam mais o desenvolvimento do raciocínio lógico, enquanto as meninas são frequentemente desenvolvem habilidades voltadas para o cuidado de pessoas, da casa e do ambiente ao seu redor.

Como resultado desse padrão, cresce-se ouvindo que os homens têm maior aptidão para áreas exatas, enquanto as mulheres, em geral, se destacam em áreas humanas. Essa narrativa, ainda que inconscientemente, acaba desencorajando meninas e mulheres a se desenvolverem em áreas técnicas

Como a falta de diversidade de gênero na indústria impacta o nosso dia a dia

A falta de diversidade de gênero na indústria técnica acarreta várias consequências prejudiciais, como o desenvolvimento de soluções tecnológicas enviesadas, ambientes de trabalho hostis, escassez de inovação e criatividade, entre outros problemas.

Para ilustrar com exemplos práticos, uma matéria do site Turivius demonstra de maneira evidente como a falta de diversidade em determinados segmentos pode acarretar problemas.

"No campo das aplicações de IA para a área da saúde, estudos apontam que os bancos de dados utilizados em aplicativos médicos, por vezes, contribuem para diagnósticos equivocados quando um sintoma é apresentado por uma mulher.

Como grande parte dos dados era baseado na biologia masculina, os resultados de diagnósticos para mulheres eram majoritariamente enviesados: enquanto uma forte dor no braço esquerdo e costas poderia significar um princípio de infarto para homens, esses mesmos sintomas eram apontados como depressão para mulheres. Além de contribuir para o risco de morte ou complicações graves em mulheres, esta resposta do algoritmo reforça um estereótipo de gênero muito comum segundo o qual os sintomas físicos de mulheres estariam ligados a sentimentos e emoções, enquanto os sintomas de homens teriam causa física de maior urgência.

Outro exemplo que contribui para o risco à vida das mulheres foi verificado na indústria de cintos de segurança e airbags. Os sistemas utilizados desenhavam esses produtos com base em testes conduzidos com bonecos de corpo masculino. Logo, os dados coletados nesses testes não incluíam aspectos do corpo das mulheres nas medidas padronizadas, como seios ou a barriga de uma mulher grávida. A falta de um olhar atento à questão de gênero neste caso, implica em uma maior chance de acidentes no percentual de 47%, bem como 17% maior chance de óbito das mulheres relativamente aos homens."

Um outro exemplo do impacto da tecnologia com viés é o caso das assistentes de voz, conforme destacado no relatório “I’d Blush if I Could” da UNESCO. O documento ressalta que a grande maioria das assistentes, como a Siri da Apple, a Alexa da Amazon e a Cortana da Microsoft, são projetadas para serem percebidas como femininas, desde seus nomes até suas vozes e personalidades.

Contratação e retenção

Mais do que simplesmente incluir mulheres na área de tecnologia, é importante que elas se sintam parte desse meio, criando ambientes de trabalho seguros e acolhedores. Conforme apontado pela pesquisa “Women in Tech: The Facts”, 41% das mulheres que trabalham com tecnologia acabam deixando a área, em comparação com apenas 17% dos homens.

É essencial entender os fatores por trás desse alto índice de turnover. Entre os principais motivos, certamente podemos citar a falta de igualdade de oportunidades e incentivos adequados, além da presença de um ambiente pouco acolhedor.

Por que as áreas tecnológicas precisam ser diversas?

Hoje em dia, usamos tecnologia em praticamente tudo o que fazemos. Um relatório divulgado por We Are Social e Hootsuite em janeiro de 2023 mostrou que 5,16 bilhões de pessoas em todo o mundo usam a Internet, o que é cerca de 64,4% da população total do planeta. Isso significa que o mundo todo está conectado e usando a tecnologia como elemento central de sua jornada de evolução.

No entanto, se as pessoas que desenvolvem essa tecnologia não forem diversas, teremos um problema. A diversidade em áreas técnicas é importante pois promove a representatividade e acessibilidade, estimula a criatividade e inovação. Além disso, a inclusão de diferentes perspectivas contribui para a criação de soluções mais abrangentes e eficazes. Vale ressaltar que a diversidade em STEM também desempenha um papel fundamental na promoção da independência feminina, ajudando as mulheres a romperem ciclos de dependência financeira de terceiros, incluindo situações de violência doméstica ao proporcionar oportunidades de empregabilidade e autonomia financeira.

Como ser um agente de mudança

Sabemos que ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar a igualdade e diversidade de gênero em STEM. Minha principal recomendação, especialmente para os aliados, é que busquem apoiar meninas e mulheres desde cedo, incentivando-as a serem protagonistas de suas vidas e carreiras. Evitem discriminá-las e ajudem a criar condições para que elas tenham sucesso em suas jornadas.

Ao longo da minha trajetória na tecnologia, recebi apoio de muitas mulheres que foram exemplos para mim, e também tive incríveis aliados que me apoiaram e proporcionaram algumas das melhores oportunidades que já tive. Por isso, destaco a importância dos aliados nesse meio. Sejam intencionais em buscar um ambiente mais diverso e inclusivo na tecnologia. Leiam, estudem, e aprofundem seus conhecimentos sobre esses assuntos.

Para as empresas, há diversas iniciativas que podem ser implementadas para fortalecer a presença de mulheres nesse cenário. Isso inclui programas de capacitação, vagas afirmativas, grupos de afinidade, e, acima de tudo, a criação de ambientes acolhedores e respeitosos. Oferecer oportunidades e salários adequados também é fundamental para promover a igualdade de gênero.

E, por fim, para as mulheres, minha mensagem é muito simples: confiem em si mesmas e façam o que for necessário para se desenvolver, se especializar e praticar, pois não há nada que não possa ser aprendido. Você pode fazer o que quiser!

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