Quando você pensa em uma pessoa da área da tecnologia, qual imagem vem a sua mente?

Beatriz Oliveira
She Leads Brasil

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Sempre faço essa pergunta em palestras e outras dinâmicas que abordam a questão da diversidade de gênero na tecnologia, pois através desse simples exercício podemos perceber um viés que a maioria de nós possui.

A maioria das pessoas tende a pensar em um homem, geralmente branco e com uma aparência nerd. Raramente essas pessoas pensam em uma mulher devido aos estereótipos de gênero. Por muito tempo, associamos a área de tecnologia como sendo predominantemente masculina, o que contribui para a sub-representação das mulheres nesse meio.

Segundo o Wikipedia, o movimento “I Look Like an Engineer” foi criado em 2015 pela desenvolvedora de software Isis Anchalee em resposta à reação que recebeu ao participar de uma campanha publicitária de recrutamento na empresa em que trabalhava, pois diversas pessoas julgaram a sua aparência e acreditavam que ela era uma modelo, e não uma engenheira de software, simplesmente pelo fato de ser uma mulher.

Na época, ela fez uma postagem detalhando sua experiência e seus sentimentos diante de toda a repercussão, incentivando outras pessoas de grupos minoritários na tecnologia a compartilhar suas fotos com a hashtag #ILookLikeanEngineer.

Hoje, ainda vivemos em uma época em que as mulheres são subrepresentadas, mas é sempre bom lembrar que já houve uma participação significativa delas na computação.

Segundo um artigo da Planet Money, a porcentagem de mulheres na ciência da computação começou a cair aproximadamente no mesmo momento em que os computadores pessoais começaram a aparecer em números significativos nos lares dos EUA.

Ainda segundo esse artigo, esses primeiros computadores pessoais não eram muito mais que brinquedos. Eles possibilitavam apenas jogos simples e talvez algum processamento de texto. Além disso, esses brinquedos eram comercializados quase inteiramente para meninos. Com isso, a ideia de que computadores são para meninos tornou-se uma narrativa predominante.

Nesse mesmo artigo da Planet Money, também é destacado o fato de que na década de 1990, a pesquisadora da Universidade da Califórnia, Jane Margolis, descobriu que as famílias eram muito mais propensas a comprar computadores para meninos do que para meninas, mesmo quando as meninas estavam realmente interessadas em computadores.

Infelizmente, todo esse histórico contribui para perpetuar a falta de diversidade em tecnologia, o que afeta até mesmo as soluções tecnológicas que utilizamos. Isso ocorre porque a tecnologia é desenvolvida por pessoas, e essas pessoas têm vieses. Infelizmente, esses vieses estão presentes nos códigos por trás dos produtos digitais que utilizamos.

Um exemplo do impacto da tecnologia com viés é o caso dos assistentes de voz, conforme destacado no relatório “ I’d Blush if I Could ” da UNESCO. O documento mostra que a grande maioria dos assistentes, como a Siri da Apple, a Alexa da Amazon e a Cortana da Microsoft, são projetadas para serem percebidas como femininas, desde seus nomes até suas vozes e personalidades.

Por fim, é evidente que a falta de representatividade feminina na área de tecnologia é um problema real que impacta a inclusão das mulheres nesse meio. Essa carência de referências pode continuar afastando meninas e mulheres da área, enquanto perpetuamos a construção de soluções não diversas. Portanto, é crucial que continuemos a discutir esse tema e a desenvolver iniciativas para tornar a tecnologia mais inclusiva.

Finalizo este texto deixando duas recomendações de leitura para quem desejar se aprofundar sobre o assunto:

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