Quando você é a única mulher na sala: O desafio da representatividade em STEM

Beatriz Oliveira
SysAdminas

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Ser a única mulher na sala, seja fisicamente ou virtualmente, em áreas como ciência, tecnologia, engenharia ou matemática, é algo constante, infelizmente. Isso ocorre desde os ambientes acadêmicos até o mercado de trabalho e eventos nessas áreas.

Minha primeira experiência nessa situação foi na faculdade em 2014, em uma turma com mais de 40 pessoas, onde havia apenas eu e mais 4 mulheres. Ao longo dos semestres, esse número foi diminuindo até que restei eu e apenas mais uma colega de turma. No mercado de trabalho, não foi diferente. Conforme avançava na carreira em tecnologia e me tornava mais técnica, encontrava menos mulheres. Eu era sempre a única na sala, e essa é uma posição difícil de se estar.

Por ser a única, tudo o que você faz chama atenção. Se você fica calada demais, é tímida. Se você fala algo, tem que moderar o tom para não demonstrar emoções, além disso, você precisa ter a sorte de não ser interrompida durante sua fala. Ser a única pessoa representando um grupo minoritário em um ambiente é muito desafiador, e apenas quem vive essa experiência sabe como é. Nessas situações, nos sentimos não pertencentes e invisíveis.

Por um tempo, eu me considerava forte o suficiente por estar nesse meio. Tentava encarar o fato de ser a única na sala como um privilégio, afinal era uma oportunidade de trabalhar. Só o fato de estar ali parecia um presente, e eu sentia que precisava lidar com isso e ser grata por ser a única nesses lugares.

O problema é que ser a única mulher na sala pode te levar a aceitar os salários mais baixos, a tolerar piadas machistas e a adotar comportamentos masculinos para fazer parte da rodinha dos caras. Quando você percebe, acaba perdendo sua autenticidade e espontaneidade para se ajustar a um ambiente que não aceita quem você realmente é. Sem contar que trabalhar em ambientes assim vai minando toda sua confiança, ao ponto em que se torna necessário buscar apoio psicológico para lidar com toda essa carga emocional.

O problema dos preconceitos e vieses

Em uma pesquisa recente com mais de mil mulheres em tecnologia, 38% das entrevistadas disseram testemunhar preconceitos de gênero em seus locais de trabalho, e 38% também afirmaram que os homens são considerados mais capazes do que as mulheres em seus locais de trabalho, especialmente na área da tecnologia.

Vendo essa última estatística, me lembro das várias vezes em que, ao entrar em uma sala para uma reunião representando meu time, tive que ouvir que as pessoas estavam esperando pelo “cara da infraestrutura” e se surpreendiam ao me ver sendo esse “cara”, ou das vezes em que preferiam resolver um determinado problema com outros colegas por acharem que eu não teria expertise suficiente.

O fato é que as pessoas têm vieses. Ainda é difícil para muitas delas conceberem a imagem de uma mulher como uma profissional na área de tecnologia. Inclusive, discutimos sobre isso neste artigo.

E eu sei que não desconstruímos nossos vieses e preconceitos da noite para o dia, mas o ponto aqui é chamar atenção para todo esse cenário. Até quando vamos nos acostumar a trabalhar em times pouco diversos? Até quando vamos continuar vendo histórias de mulheres que são desacreditadas antes mesmo de abrirem a boca em uma reunião ou em um evento simplesmente por serem mulheres?

Não devemos nos acostumar com isso, e aqui faço um apelo aos aliados: estejam sempre atentos aos ambientes em que estão, observem se uma mulher está sendo interrompida durante uma reunião ou se está simplesmente calada. Muitas vezes, o fato de ser a única na sala nos faz sentir desconfortáveis, mas vocês podem trabalhar intencionalmente para incluir quem não está tão participativo na dinâmica.

Criar um ambiente mais inclusivo é algo que todos nós podemos fazer, muitas vezes com pequenos gestos e muita atenção a tudo o que nos acontece. Outra sugestão é estudar sobre preconceitos e vieses e tentar identificar a origem dos que você tem também, pois o conhecimento nos ajuda a entender com profundidade várias questões sobre as desigualdades.

Não mudaremos as questões de desigualdade e preconceito de gênero em áreas técnicas do dia para a noite, mas cada passo que damos em busca de melhorias nos faz chegar mais perto dessa realidade.

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Beatriz Oliveira
SysAdminas

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